O cérebro de quem pratica atividade física regularmente funciona melhor. Os atletas e os profissionais de educação física dizem isso há muito tempo. Pela primeira vez, porém, os cientistas conseguiram reunir um conjunto de evidências para sustentar a afirmação que antes parecia ser apenas um recurso para manter os alunos estimulados. Com a ajuda de imagens de ressonância magnética, os pesquisadores conseguiram determinar o que acontece no cérebro de quem malha. Concluíram que fazer exercício uma hora por dia, pelo menos três vezes por semana, estimula a produção de neurônios e favorece a aprendizagem. Em outras palavras: quem se exercita fica mais esperto.
Cientistas da Universidade Colúmbia e do Instituto de Pesquisas Salk, nos Estados Unidos, submeteram um grupo de voluntários a essa rotina de malhação durante três meses. Concluíram que a prática dobrou o fluxo de sangue no cérebro e provocou o nascimento de novas células no hipocampo, a área relacionada com a memória e com a capacidade de aprendizagem.
Para investigar esse fenômeno, os pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas decidiram analisar a cabeça dos judocas profissionais. O cérebro deles foi comparado com o de indivíduos sedentários pelo educador físico Wantuir Jancini, sob a orientação do neurologista Li Li Min. Imagens de ressonância magnética revelaram que os atletas possuíam maior quantidade de massa cinzenta em áreas ligadas ao desenvolvimento motor e à concentração.
O que os cientistas investigam em laboratório o judoca Flavio Canto, medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atenas (2004), observa no dia-a-dia de seus alunos. Ele é o criador do Instituto Reação, uma ONG que alia a prática esportiva e o estímulo à leitura. Na unidade da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, os 240 alunos recebem aulas de judô e de reforço escolar. Em dia de prova para avançar de nível no esporte – a aguardada troca de faixa –, cada jovem atleta tem de fazer uma redação. “Sempre digo a eles que um grande campeão é também um estudante acima da média”, diz.
O judoca observa que, com atividade física constante e estímulo intelectual, as crianças apresentam desempenho exemplar dentro e fora dos tatames. “O judô é como um jogo de xadrez: o atleta tem de criar uma estratégia e prever a reação do oponente. É um esporte que estimula o raciocínio e a concentração, características essenciais para ser bom aluno”, afirma Canto.
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A relação entre atividade física e rendimento escolar também foi alvo de um estudo feito pelo neurologista Charles Hillman, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Foram reunidos 259 alunos do 3º e do 5º ano do ensino fundamental, em dois grupos: um de excelentes alunos, outro de estudantes abaixo da média. A equipe mediu o índice de massa corporal de cada um e os submeteu a um programa de alongamentos, corrida rápida, flexões e abdominais cronometrados. Aqueles que estavam mais em forma eram os que tinham melhores notas em Matemática e em interpretação de texto. “Com base nesse desempenho, concluímos que a atividade física ajuda a aumentar a capacidade cognitiva das crianças”, diz Hillman.
Ganhar neurônios não necessariamente significa um acréscimo de inteligência. O alargamento do hipocampo aumenta a capacidade de assimilar informações. Para que essa vantagem seja transformada em conhecimento intelectual, é preciso estudar. “O cérebro de quem se exercita é como um pedreiro saudável pronto para trabalhar. Se ele não receber os tijolos e o cimento, não vai construir nada”, diz o cardiologista Alfredo Fonseca, do Laboratório de Estudos do Movimento do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Até a musculação faz bem ao cérebro, segundo um novo estudo da Universidade Federal de São Paulo. O psicobiólogo Marco Túlio de Mello e o educador físico Ricardo Cassilhas submeteram um grupo de 62 homens sedentários com idades de 65 a 75 anos a um programa idêntico ao que os jovens fazem nas academias: dez minutos na esteira e 50 minutos em aparelhos de musculação. “Após seis meses, eles tiveram melhora na memória de longo e curto prazos e ficaram mais alertas”, diz Mello.
Como a atividade física muda o cérebro... | ||
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Quando novosneurônios surgem no cérebro, aparecem também novos vasos sanguíneos | Exercícios aumentam o volume sanguíneo na área do hipocampo relacionada à memória e à aprendizagem | Segundo os cientistas, essa seria uma prova de que a atividade física ajuda a criar neurônios |
...e como tirar o melhor proveito dela | ||
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Para trazer benefícios ao cérebro, a atividade física tem de ser freqüente. O ideal é praticar uma hora de exercícios, pelo menos três vezes por semana | Esportes que trabalham vários gruposmusculares e envolvem estratégia – como o judô – estimulam mais as habilidades cognitivas | Exercícios respiratórios, meditação, tai chi chuan e ioga melhoram a capacidade de concentração e memória |
Fontes: Universidade de Colúmbia, Li Li Min, neurologista da Unicamp, e Alfredo Fonseca, cardiologista do Hospital das Clínicas, em São Paulo |
Mais que determinar quantos neurônios são produzidos numa aula de ginástica, o grande desafio dos especialistas é tornar a atividade física prazerosa. O nadador Gustavo Borges, quatro vezes medalhista olímpico, aprendeu que o aluno só se compromete com o esporte quando é desafiado. Ele desenvolveu um método de natação que é aplicado a 2 mil alunos de 83 academias de todo o país. Traçou um calendário de objetivos semanais, com uma série de metas. Conforme os nadadores avançam, mudam as cores da touca (algo parecido com a troca de faixa no judô). A busca da superação aumenta o interesse dos aprendizes, sejam crianças, sejam adultos. “Independentemente da idade, nadar melhora o apetite e tranqüiliza o sono. Bem alimentada e descansada, qualquer pessoa apresenta um salto de bem-estar”, diz Borges. E, segundo as novas pesquisas, pode ficar mais esperta também.

A idéia de que o exercício deixa o cérebro afiado é muito atraente. Mas o ganho cognitivo só se verifica em quem se exercita regularmente. Atletas de fim de semana não atingem o mesmo resultado. Por outro lado, o estresse produzido pelo excesso de malhação pode anular os benefícios para o cérebro. Em experimentos com ratos, algumas séries de exercícios levaram ao aumento de uma substância identificada pela sigla BDNF. Ela induz o surgimento de neurônios. Quando o exercício era exagerado, porém, a substância não era produzida. Há dúvidas sobre os mecanismos envolvidos nesse processo.“O exercício influi na circulação cerebral e na sobrevivência das células neuronais, mas serão necessários anos de pesquisa para saber quais as moléculas envolvidas”, diz Netto.
Mais que determinar quantos neurônios são produzidos numa aula de ginástica, o grande desafio dos especialistas é tornar a atividade física prazerosa. O nadador Gustavo Borges, quatro vezes medalhista olímpico, aprendeu que o aluno só se compromete com o esporte quando é desafiado. Ele desenvolveu um método de natação que é aplicado a 2 mil alunos de 83 academias de todo o país. Traçou um calendário de objetivos semanais, com uma série de metas. Conforme os nadadores avançam, mudam as cores da touca (algo parecido com a troca de faixa no judô). A busca da superação aumenta o interesse dos aprendizes, sejam crianças, sejam adultos. “Independentemente da idade, nadar melhora o apetite e tranqüiliza o sono. Bem alimentada e descansada, qualquer pessoa apresenta um salto de bem-estar”, diz Borges. E, segundo as novas pesquisas, pode ficar mais esperta também.
Mais que determinar quantos neurônios são produzidos numa aula de ginástica, o grande desafio dos especialistas é tornar a atividade física prazerosa. O nadador Gustavo Borges, quatro vezes medalhista olímpico, aprendeu que o aluno só se compromete com o esporte quando é desafiado. Ele desenvolveu um método de natação que é aplicado a 2 mil alunos de 83 academias de todo o país. Traçou um calendário de objetivos semanais, com uma série de metas. Conforme os nadadores avançam, mudam as cores da touca (algo parecido com a troca de faixa no judô). A busca da superação aumenta o interesse dos aprendizes, sejam crianças, sejam adultos. “Independentemente da idade, nadar melhora o apetite e tranqüiliza o sono. Bem alimentada e descansada, qualquer pessoa apresenta um salto de bem-estar”, diz Borges. E, segundo as novas pesquisas, pode ficar mais esperta também.
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