Como acontece com outros tipos de dependência química, a da cafeína também se dá no cérebro. A cafeína tem o poder de bloquear os receptores de adenosina, substância liberada durante toda a atividade cerebral e que funciona como um calmante natural. Assim, uma mente em estado de cansaço e com níveis altos de adenosina vai experimentar alívio e excitação depois de algumas doses de cafeína. O processo funciona bem durante um tempo, até que o cérebro aciona suas defesas em busca de equilíbrio e passa a produzir mais receptores de adenosina. Então, a quantidade de cafeína necessária para produzir excitação passa a ser maior. Isso explica por que pessoas que consomem muita cafeína adquirem resistência e precisam aumentar as doses de café ou refrigerante para desfrutar o efeito energético.
A inclusão da abstinência em um manual de transtornos mentais é controversa. Diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo: “Os sintomas de abstinência de fato existem, a dúvida é se vale a pena transformá- los em uma doença”. Os especialistas que apoiam a iniciativa lembram que a cafeína é a droga psicotrópica mais popular do mundo. Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, o vício em cafeína e os sintomas de abstinência devem ser diagnosticados e remediados de maneira individualizada. “Cada organismo apresenta uma vulnerabilidade diferente. O que deve ser observado é se a dependência atrapalha a realização das tarefas diárias”, diz ele.
Felizmente, o tratamento é mais simples, quando comparado ao dispensado a viciados em outras drogas, e o sintomas da abstinência não costumam durar mais do que urna semana. A cafeína não é atípica porque não provoca danos no cérebro ou no organismo comparáveis aos dos entorpecentes”, diz Laranjeira. No consultório de Roland Grifflths, do departamento de psiquiatria e neurociência da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, os pacientes viciados em cafeína são orientados a reduzir gradualmente a ingestão da substância – 25% a menos a cada semana. Uma das táticas para alcançar essa redução é misturar café descafeinado à versão normal. Em um pomo os especialistas concordam: moderação é essencial para que a cafeína não amargue o dia a dia.
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